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Sintaticamente, os dois versos de Otávio Roth se organizam pela enumeração de expressões nominais diversas:
a) substantivo seguido de adjetivo ou locução adjetiva: pijama de flanela; almoço de domingo; revoada de flamingo;
b) substantivo seguido de adjunto adverbial: passarinho na janela; brigadeiro na panela;
c) substantivo seguido de oração adjetiva: herói que fuma cachimbo;
As expressões nominais – substantivos, adjetivos e palavras que exercem essa função – nomeiam os elementos da realidade de forma estática, enquanto os verbos nomeiam os elementos da realidade de forma dinâmica. Levando isso em conta, podemos dizer que os versos de Otávio Roth tendem para o estático, pelo predomínio de expressões com valor nominal; já nos versos de Ruth Rocha, empregam-se tanto substantivos quanto formas verbais no infinitivo: Ver gelatina tremendo no prato / Nadar depressa usando pé de pato / Mostrar a língua pra tirar retrato. Este recurso sugere dinamismo.
Os alunos e alunas podem optar novamente por uma paráfrase ou por uma paródia dos versos lidos.
Fernando Pessoa, Lisboa (Portugal), 1888-1935. É considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa de todos os tempos. Em sua obra, ele usou vários heterônimos, que formavam personalidades completas: tinham biografia, estilos literários próprios, maneiras diversas de ver o mundo. Era como se Fernando Pessoa encarnasse outras pessoas imaginadas por ele. Em alguns poemas, Pessoa assinava o próprio nome. Em outros, assinava Alberto Caeiro, um poeta que buscava a simplicidade da natureza e preferia linguagem e vocabulário simples. Em outros ainda, assinava Ricardo Reis, que tinha uma forma humanística de ver o mundo e procurava um equilíbrio similar ao dos clássicos. Outro heterônimo era Álvaro de Campos, um poeta moderno, um homem identificado com o gosto e os costumes de seu tempo. Clique aqui para conhecer mais sobre o poeta.
Eu tenho um colar de pérolas
Enfiado para te dar:
Enfiado para te dar:
O fio é o meu penar.
Quadra 2 (27/8/1907)
A caixa que não tem tampa
Fica sempre destapada.
Dá-me um sorriso dos teus
Porque não quero mais nada.
Quadra 9 (11/7/1934)
No baile em que dançam todos
Alguém fica sem dançar.
Melhor é não ir ao baile
Do que estar lá sem lá estar.
Quadra 17 (4/8/1934)
Vale a pena ser discreto?
Não sei bem se vale a pena.
O melhor é estar quieto
E ter a cara serena.
Quadra 18 (18/8/1934 – data provável)
Não digas mal de ninguém,
Que é de ti que dizes mal.
Quando dizes mal de alguém
Tudo no mundo é igual.
Quadra 62 (11/9/1934)
Fernando Pessoa. Obra poética VI. Porto Alegre: L&PM, 2008.